sábado, 15 de dezembro de 2007

“Um escritor medíocre escreve sobre a sua própria vidinha, enquanto um bom escritor escreve sobre as suas vidas possíveis!” - André Gide
Já nem lembro quando pensei pela primeira vez em "escrever um livro", talvez essa idéia recorrente tenha surgido ainda na infância, quando ouvi pela primeira vez aquele papo de que "há três formas de se entrar para a posteridade: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro". Provavelmente essa quase idéia fixa seja apenas um sintoma de megalomania, sei lá... Acontece que tenho pensado muito em escrever durante esse último ano.
Já rabisquei um pequeno grande número de tramas, personagens, cenários e diálogos, fiz pesquisa acerca dos assuntos que julguei necessários, mas acabei não desenvolvendo.
Na fase policial - sim, porque minha busca pela trama perfeita (veja bem, pefeita para minhas limitadas possibilidades) já passou por alguns dos gêneros mais diversos, sendo todos eles "os meus favoritos" - desenhei uma trama, os personagens, onde e como tudo se desenrolaria para em seguida assistir ao seriado Dexter - que eu adoro, por sinal - e descobrir que a minha "idéia incrível" não tinha nada de original, embora minha trama não fosse nem de longe exatamente igual à do seriado.
Depois dessa situação meio incômoda, em que me descobri fazendo parte do inconsciente coletivo e tendo idéias originais, que podem parecer originais ao seu autor, mas que parecem surgir quase simultâneamente nas mais diversas mentes espalhadas pelo globo terrestre, desisti de tentar alcançar a originalidade. - Sobre esse tema, aliás, posso dizer que tinha esperanças de que nesta seara encontraria a originalidade, visto que durante toda a minha vida tenho ouvido sucessivamente: "Nossa, tenho uma ______ (no espaço em branco entram amigas, primas, irmãs, vizinhas e algumas outras variantes) que é a sua cara." Também tem a variação do tema: "Nossa, tenho uma ______ que tem o seu jeito." Mas sempre podemos encontrar quem fale como eu, ria como eu, ande como eu, ou faça qualquer coisa absolutamente banal da mesma maneira que eu!!!
Enfim, voltando ao assunto, depois que parei de me preocupar com originalidade, resolvi seguir as regras do jogo. Ou seja, destrinchei as fórmulas da ficção policial - eu ainda estava obcecada com o crime, meu caro - e resolvi seguir as que me parecessem mais familiares num exercício de escrita. Criei um detetive, para seguir, a princípio, as mais que ultrapassadas regras de uma certa Sra. Christie. A minha única tentativa de inovação, foi a ocupação do dito cujo: mordomo! Desenvolvi o personagem a partir de uma figura que conheço e que admiro muito, que não é nem nunca foi mordomo aliás. Quando cheguei ao desenho do que seria sua primeira aventura - sim, porque óbviamente, já imaginei inúmeras situações para que o meu espertíssimo sujeito pudesse demonstrar suas habilidades de observação e dedução - alguma coisa aconteceu no meu coração. Meu mundo caiu, depois de enfrentar mamãe com câncer e a perda de um amigo muito querido, ainda perdi meu irmão de quatro patas e o rumo.
Pouco depois, lendo uma entrevista do Seinfeld sobre seu "Bee movie" resolvi aceitar sua sugestão e desenvolver uma história sobre um par de meias. Caramba! Desde então, quando tenho dificuldade para dormir- o que acontece diáriamente desde que o Zeus se foi - me pego contando histórias de meias a mim mesma. Isso aí, desenvolvi obsessão pelo meu par de meias cor de rosa, meias essas que comprei aos 9 anos em uma viajem à Disney - para quem não sabe, tenho 33 anos - e que uso até hoje, principalmente para ficar em casa em dias frios.
Sei lá parece que junto com o Zeus - que nos alegrou por 16 anos - o que restava da minha infância se foi, com exceção do meu par de meias cor de rosa. Desde que soube da doença da minha mãe já andava chegada à programação infantil, o Discovery Kids virou meu canal favorito e passei a dormir embalada pelos Backyardigans, PinkyDinky Doo e Zooboomafoo.
Tive uma infância feliz e minha estória favorita sempre foi Peter Pan. Ser criança é o meu refúgio, minha Shangri-lá, minha cidade ideal, onde a vida é sempre simples e o maior problema é comer todas as verduras do prato.
Ouvi dizer por aí, não lembro onde, que é preciso ter conhecido o sofrimento para escrever sobre a dor. EU NÃO QUERO ESCREVER SOBRE ISSO! (Talvez durante um certo período mórbido na adolescência, mas isso passou, pelo amor de Deus!) Na verdade, eu precisava lavar a alma, faz mais de uma semana que estava pensando nesse post e não encontrava tempo.
Voltando ao início do post, não posso ser considerada uma escritora medíocre... simplesmente por que não sou escritora... apenas torno públicos os meus pensamentos neste blog e esse papo de escrever livro, bem... quem sabe, por enquanto continuo me divertido em contar para mim mesma as aventuras de um par de meias de uma garotinha, talvez eu mesma.. de volta à mediocridade... Ah! Quer saber? Who cares?

Um comentário:

Saulera disse...

Achava que era necessário fazer os três: livro, árvore E filho. Ufa, fiquei aliviado! :-)

Quanto à infância... sim... concordo, sem querer ser melancólico.